O ser humano é um ser social. Isso significa que ele sente necessidade de formar pares, constituir família e viver em comunidade. Por essa razão, naturalmente estabelecemos relacionamentos afetivos de diferentes tipos com as pessoas com quem convivemos.
Mas uma coisa é certa: queiramos ou não, esse relacionamento um dia vai ter fim. E por uma dessas duas razões: alguém dessa relação morre; alguém dessa relação desiste e sai do relacionamento.
Não importa por qual motivo o relacionamento termina. Para aquele que “fica”, e as vezes também para aquele que decide sair do relacionamento, vem a vivência do processo do luto da separação.
Esse processo geralmente costuma gerar uma confusão sentimentos que acontecem mais ou menos ao mesmo momento nesse período: negação ou não aceitação do fim do relacionamento; tristeza; sentir culpa pelo relacionamento haver terminado; raiva do parceiro que terminou o relacionamento e tentativas (as vezes desesperadas) de retomar a relação. É sem dúvida alguma um processo doloroso e cada pessoa precisa do seu tempo para superar. Quanto tempo dura esse processo? Ao certo, ninguém sabe.
A dor do luto de separação
O que sabemos de fato é que em geral a maioria das pessoas costuma viver um processo muito intenso no primeiro mês. Entre o segundo e o terceiro mês os sentimentos vividos vão adquirindo outro sentido e a dor da separação vai aos poucos diminuindo tanto em frequência quanto em intensidade.
A tristeza típica desse processo surge quando, em meio às atividades do dia, a pessoa se lembra da pessoa amada ou das circunstâncias da separação. Por isso, a dor do luto é vivida em ondas de sentimentos que vem e vão ao longo do dia, durante várias semanas ou meses.
Espera-se que em seis meses a pessoa já esteja muito melhor e que em até um ano o luto esteja superado. Mas porque um ano? Porque esse é o período necessário para poder passar por todas as datas festivas e importantes (aniversários, Natal, Ano novo, etc) sem a presença da pessoa amada.
A pessoa que viveu esse processo agora entende ou aceita que a sua própria vida precisa continuar. E então, aos poucos, vai abrindo seu coração para outros interesses e novas relações, tanto de amizade, quanto afetivas.
É possível aprender a deixar de amar?
Muita gente se pergunta se é possível aprender a deixar de amar alguém. Eu respondo essa pergunta com outra: e porque temos que deixar de amar alguém que um dia foi importante para nós?
A bem da verdade, temos é que aceitar que o outro não nos quer mais e respeitar a decisão dele. Se não aceitamos esse fato sofremos sem necessidade. Se não aceitamos esse fato, infelizmente, as vezes o fim do relacionamento termina em perseguição e agressão ao outro. E ninguém tem direito de fazer isso. Por isso, o melhor que se pode fazer é respeitar a posição daquele que decidiu sair do relacionamento. E seguir com a própria vida.
Então, o que fazemos com esse amor que não se vai? Uma resposta possível, que vale também para os casos de luto por falecimento é transformar esse amor em um outro amor de um tipo diferente. Repartir esse amor que um dia foi tão bonito, em duas partes. Um parte para investir consigo mesmo e outra parte para as outras pessoas que fazem parte da nossa vida! O segredo é aprender a usar esse amor consigo em forma de cuidados pessoais e novos interesse. E compartilhar o resto para o bem das pessoas com quem vivemos e dividimos a existência nessa vida. Isso nos ajuda a encontrar um novo sentido para a vida.
Encontrando um novo sentido para a vida
Muita gente encontra um novo sentido quando consegue transformar o amor que tinha ou tem para alguém em um amor que é vivido positivamente e vivido em forma de dedicação a outras pessoas e a um trabalho.
1- Aplicando o tempo disponível em alguma atividade de trabalho ou atividade produtiva
Uma forma interessante de encontrar um novo sentido para a vida e para o amor é usar essa energia na nossa capacidade criativa. Isso mesmo: criatividade! Muitas ONG´s, projetos sociais e até negócios empreendedores nasceram assim. Obras de arte também.
Aliás trabalhar é uma grande ajuda para quem vive um luto porque além de ocupar a mente com atividades produtivas, evita fazer com que a pessoa fique entregue exclusivamente aos próprios sentimentos. Ajuda a sair do egoísmo e da tendência de ficar olhando para o próprio umbigo. E a produtividade do trabalho gera dinheiro que permite a pessoa a fazer cursos, novos amigos e encontrar outros interesses que a fazem feliz.
2 – Aplicando sua criatividade, conhecendo e produzindo arte
Você certamente conhece músicas, filmes, poesias, esculturas, trabalhos manuais e outras manifestações artísticas que tratam sobre sobre a expressão do sentimento de luto de separação. Conhecer essas manifestações artísticas que já foram produzidas e também fazer a sua própria produção de arte também ajudam nesse processo. Principalmente se você puder fazer essa arte ou artesanato em grupo, em conjunto com outras pessoas.
Cito como exemplo um desses casos publicamente conhecidos: a carreira artística da cantora norte-americana Adele. Após o término de uma relação afetiva muito importante para ela, dedicou-se a escrever e a cantar. O resultado disso já sabemos: além de tê-la ajudado a superar seu momento de luto, Adele produziu sucessos que lhe rendem trabalho e remuneração por shows e direitos autorais até os dias de hoje.
Você já conhece o que é arteterapia? É um dos recursos que psicólogos, arte-terapeutas e terapeutas ocupacionais utilizam ajudar pessoas a fazer a expressão de sentimentos e o desenvolvimento da sua criatividade.
3- Fazer a vivência de sua própria espiritualidade
Além de se caracterizar um ser social, o ser humano também é um ser espiritual e que demanda vivência de sua própria espiritualidade. Não há povo ou civilização que não tenha a sua própria prática de espiritualidade.
Independente do fato de existir ou não uma alma imortal, crentes (pessoas que acreditam em alguma divindade ou entidade superior à humanidade) podem encontrar alívio emocional no apoio espiritual que obtêm das orações e pela prática de sua fé religiosa. E os não crentes também podem encontrar alívio emocional em práticas meditativas e na prática de ações que promovem o bem-estar e os valores universais humanos (caridade, amor ao próximo, justiça, honestidade, etc).
Quando é que se precisa de ajuda para superar o luto?
Se a pessoa que vive o luto está triste mas percebe que com o passar do tempo a sua dor não está interferindo na sua vida; que a dor emocional está diminuindo aos poucos e que gradativamente ela está melhorando, ela não precisa de ajuda. Apenas de tempo para elaborar o seu processo.
Mas se a pessoa percebe que a dor emocional é insuportável; ou está interferindo de maneira importante no seu trabalho, estudos ou cuidados de si mesmo; ou ainda que está demorando muito para se resolver, vale a pena procurar a ajuda de um psicólogo.
O psicólogo avaliará junto com a pessoa como está a vivência desse processo de luto e a ajudará a aprender:
- como a lidar com seus sentimentos de maneira adequada
- a atribuir um sentido ou um significado para o termino do relacionamento
- como organizar sua rotina de modo a recuperar sua capacidade de viver, trabalhar e amar
- como a utilizar a habilidade da assertividade para dar expressão dos seus sentimentos e tomar as ações que precisa realizar
- a tirar lições de vida desse relacionamento que terminou e preparar-se para as possibilidades de um futuro relacionamento
Durante esse trabalho o psicólogo realizará com seu paciente a avaliação de como seu padrão cultural e religioso, seu histórico de vida e seu desenvolvimento emocional são impactados pela separação afetiva e como essa separação se adequa à sua individuação, ao seu propósito de vida.
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Sugestão de leituras:
Bowlby, John. Apego e perda. São Paulo : Martins-Fontes. 2004
Bowlby, John. Separação, angústia e raiva. São Paulo : Martins-Fontes. 2004
Freud, Sigmund. Estar amando e a hipnose. In: Obras completas de Sigmund Freud. v. 18. Rio de Janeiro, Editora Imago, 1996
Freud, Sigmund. Luto e melancolia. In: Obras completas de Sigmund Freud. v. 14. Rio de Janeiro, Editora Imago, 1996
Jaffe, Aniela; Frey-Rohn, Liliane; Franza, Marie-Louise Von. A morte à luz da psicologia. São Paulo: Editora Cultrix, 1995.
Jung, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo – 5 a. Ed.-Petrópolis. RJ: Editora Vozes, 2007.
Kubler–Ross E. Sobre a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes; 1985