Vez por outra sabemos da morte de alguém. São notícias que nos chegam diariamente. Muitas vezes são notícias que não nos tocam, outras vezes são notícias que nos chocam.
Passados o impacto inicial e o choque emocional que tanto nos mobiliza, vem os necessários rituais funerários: o velório, a coroa de flores, o sepultamento. E após isso, o período de luto.
Chamamos de luto o período de adaptação que é vivido pelas pessoas que possuem algum tipo de vínculo afetivo com o falecido: familiares, amigos e companheiros de trabalho. E embora o falecido já se tenha ido, o sentimento que existia por ele permanece.
E é justamente por isso que vive-se um momento de transição – que os enlutados percebem como um vazio – e que provoca um dos aspectos mais importantes do luto: a tristeza e suas manifestações associadas.
A DOR DO LUTO
Durante o período do luto, é muito comum que a pessoa enlutada passe por sentimentos de tristeza, insônia, apetite reduzido e perda de peso. Pessoas enlutadas também costumam relatar estados de preocupação com o falecido ou com as circunstância de sua morte. Intimamente, vive um sentimento de “vazio por dentro”, e sente muito a “perda” ou a “falta” da pessoa que faleceu, como se tivesse perdido ou morrido uma parte de si mesma. É a chamada dor do luto.
Nessa fase, o enlutado emociona-se muito sempre que se lembra da pessoa falecida. É comum que fique reafirmando constantemente os aspectos positivos do falecido, podendo até mesmo a imitar algumas de suas características.
A dor do luto é muito diferente de depressão. A tristeza da dor do luto é sentida “em ondas” ao longo do dia, sempre que a pessoa enlutada, entre seus afazeres do dia, se lembra do falecido. Em alguns dias, lembra-se mais do falecido, e portanto, sente-se mais a tristeza. Em outros, lembra-se menos e por consequência, fica-se triste com menos frequência.
Já na depressão a tristeza vem a qualquer momento do dia e independente de lembrar-se ou não da pessoa falecida.
COMO AJUDAR A PESSOA ENLUTADA A SUPERAR O LUTO
1) Respeitar o tempo de cada um
Cada pessoa enlutada precisará de um certo período de tempo para passar pelo luto. E esse tempo pode variar muito em decorrência das características do afeto que se tinha com o falecido, da sua religião e cultura de origem. Desse modo, o luto durará o tempo necessário para a o enlutado aceitar ou perceber que a sua vida tem que seguir adiante e adaptar-se.
2) Permitir que o enlutado fale sobre sua dor, de novo, de novo, de novo…
O ponto crucial para a superação do luto é permitir que ele se esgote. Para isso, a pessoa enlutada precisará expressar seus sentimentos tantas vezes quanto necessário. A ideia que muita gente tem de que é melhor não falar do falecido ou das circunstâncias de sua morte traz resultado contrário do que se espera. Além de não ajudar em nada o processo de luto que é vivenciado, pode fazer com que a pessoa enlutada se sinta desrespeitada e até agredida. As pessoas enlutadas querem e devem falar sobre assunto. Falar sobre sua dor a ajudará a sair do luto mais rápido.
3) Incentivar que o enlutado trabalhe
As atividades de trabalho são muito importantes para a pessoa que vive um processo de luto porque a tira da possibilidade de ficar entregue exclusivamente a seus sentimentos e isso a ajuda e seguir com a vida. Mas precisa se tomar um cuidado. Quando os enlutados percebem que “se esquecem da dor” enquanto trabalham, há aqueles que tentam tomar um atalho e resolvem trabalhar ou ocupar-se demais durante o dia. Isso, é claro, não é bom porque não existe atalho para o luto. Ficar se mantendo ocupado por 20 horas por dia não ajudará a superar o luto e ainda poderá fazer a pessoa ficar doente. O segredo está no equilíbrio. Nem trabalho ou atividades demais, nem de menos.
QUANDO É QUE A PESSOA ENLUTADA PRECISA DE AJUDA PSICOLÓGICA?
Se a vivência do processo do luto não impede a continuidade da vida cotidiana da pessoa enlutada, ela não precisa de ajuda. Precisa só de tempo e alguém por perto para conversar. Dessa maneira, apesar da dor da perda, vai aos poucos, gradativamente, reassumindo o controle da vida e continuará trabalhando, cuidando bem de si e de sua casa, estudando, enfim, vivendo.
Mas se a vivência do luto:
- está impedindo que o enlutado dê continuidade a sua vida cotidiana ou
- está fazendo-o ficar doente porque não consegue cuidar de si e de sua saúde ou
- já se passou um grande tempo (muitos meses) e a pessoa não melhora a sua capacidade de viver e “seguir em frente”
vale a pena procurar ajuda de um profissional de psicologia. O psicólogo avaliará a pessoa enlutada e o seu processo de luto e, dependendo do caso, poderá solicitar que seja realizada também uma avaliação médica para que a saúde física do corpo também seja cuidada, enquanto ele trabalhará com o seu paciente suas questões emocionais.
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Sugestão de leituras:
Almeida, Alexandra Lourenço de. Luto patológico, ansiedade perante a morte e variáveis sociodemográficas, sua relação com a sintomatologia depressiva em adultos mais velhos. Dissertação de mestrado orientada pela Professora Doutora Maria Eugénia Duarte Silva. Universidade de Lisboa, 2015.
Falando de morte. Laboratório de Estudos sobre a Morte. USP – Universidade de São Paulo. DVD. Link: http://www.lemipusp.com.br/dvds-do-lem.php
Kubler–Ross E. Sobre a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes; 1985